sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Casa do Escritor: “Crônicas de Alcântara - O Labirinto”

Este post traz uma prévia do futuro livro “O monstro de Alcântara”, de autoria do meu amigo Urbano. Quando ele me perguntou se poderia enviar algum material para a Casa do Escritor, fiquei imensamente lisonjeado. Além do mais, é meu primeiro post de 2009. Não poderia ter começado melhor!

Urba, é uma honra e um prazer publicar qualquer texto de sua autoria aqui neste humilde espaço! Obrigado! Sucesso sempre, meu amigo!

Applause

Crônicas de Alcântara - O Labirinto
(Urbano Leonel Sant' Anna - 2008)

   Para Alcântara a noite está custando muito a ir embora. Não tem a mínima idéia do local em que se encontra e a escuridão não lhe permite enxergar o seu ponto de origem e nem para onde se dirige. A única coisa que consegue perceber agora é o terrível fedor nauseabundo que empesteia o ar. Há paredes de ambos os lados, o que o obriga a ir para a frente ou recuar em direção ao lugar que ocupava momentos antes. Só não lhe é permitido parar, pois o futum é insuportável, criando a necessidade urgente de sair dali a qualquer preço. Por isso começa a se mover para a frente cada vez mais rápido. Primeiro, simplesmente caminhando. Depois, começando a correr. Por fim, aumentando a velocidade até onde a pouca visibilidade do imenso corredor permite. De modo imprevisto, o corredor acaba e ele dá de cara na parede em um cruzamento com outro corredor. Não chega a se ferir de verdade, pois não é uma parede de tijolos. Também não é pedra, nem madeira. É algo bem mais macio, como o infeliz percebe na própria boca... e infinitamente mais fétido...

   "Parecem corpos de pessoas...", pensa. "Corpos humanos em decomposição! Oh, meu Deus!"

   Salta para trás aterrorizado. Limpa a boca com a mão, no tecido da roupa. Expulsa a saliva contaminada da boca e, a muito custo, não lança fora todo o conteúdo do estômago.

   - Onde estou? Que lugar amaldiçoado é este?

   Ninguém responde.

   A luz tímida de um dia nebuloso começa a penetrar as galerias daquele templo de abominações, dando a Alcântara um primeiro vislumbre do inferno onde se encontra. Ele enxerga as centenas, os milhares de cadáveres meticulosamente empilhados uns sobre os outros, formando altíssimas e intermináveis muralhas. Impossível escalá-las. Não consegue mais manter o controle sobre as próprias pernas, que disparam numa corrida furiosa, buscando desesperadamente a saída daquele lugar. Quanto mais desabalada a sua fuga, mais corredores se lhe apresentam, entrecortando-se, intricando-se, obrigando-o a mudar constantemente de direção e a optar por qual galeria seguir a cada nova intersecção. O mau cheiro arde-lhe no nariz às inspirações profundas exigidas pelo esforço da corrida. Incontáveis vezes ele tem a impressão de ter escolhido o rumo correto e crê, sem nem mesmo afrouxar o passo, entrever no final daquele corredor desmedido um débil clarão da tão esperada luz da saída. Chega a sentir-se feliz nestes momentos, seguro de estar chegando ao fim o sofrimento. Tão feliz e seguro como só os tolos podem se sentir. Mera ilusão. Meros devaneios. Não é a saída. Renova-se a busca. Renovam-se as esperanças vazias. O labirinto parece não ter fim.

Passam-se os minutos...

as horas...

os dias...

Não há naquela prisão putrefata nada que um pobre homem faminto possa comer.

   "A não ser que..."

   Alcântara vencido pela fome e despojado de todo e qualquer alento, reproduz um funesto "Hansel e Gretel" e, a princípio frugal e depois faustosamente, ataca o labirinto, banqueteando-se com as paredes daquela morada do Diabo.

   Vão-se as semanas, os meses, os anos... O homem, vivendo ali sozinho há tanto tempo, nem sente mais o cheiro hediondo. Já não lhe causa estranheza pastar nos muros pútridos. Não fosse a falta de água para beber e para uma mínima higiene, não fosse a ausência de um bom livro para ler, não fosse a carência de uma boa música para ouvir, não fosse a inexistência de um bom filme para assistir, ele até poderia aceitar a inexorável eternidade de corrupção da alma a que lhe condena o Inferno.

Applause

Breve biografia do autor:

urba_casa.do.escritor

Urbano Leonel Sant' Anna nasceu na cidade de Mandaguari, no norte do Paraná, no 11º dia do mês de setembro do ano de 1963, um ano antes do Golpe de 1964 (até hoje vendido pelos militares como "Revolução" de 64). Pouco depois de completar um ano de idade foi com os seus pais para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, cidade onde reside até os dias de hoje. Sempre gostou de ler, desde a mais tenra infância, mas o que ele mais gostava mesmo era de escrever... Poemas e letras de música. Depois de pouco menos (ou mais) de meio milhar deles, resolveu escrever o primeiro romance "O monstro de Alcântara", hoje aguardando a burocracia necessária para o registro e, finalmente, a publicação. É o dono do blog "Sensata Paranóia", que está sempre de portas abertas para todos aqueles que tiverem vontade de ler e pensar.

15 Recado(s). Após o sinal, deixe o seu!:

Unknown

Olá Juca
Realmente, é uma crônica muito interessante. E observada sob um ponto de vista inteligente.

Parabéns pelo post, não poderia ser um ínicio melhor de ano! :)

Abraços Juca!
P.S. Se puder, e quiser, participe da Meme que eu te indiquei... porém é sem nenhuma obrigação tá!

Juca

Credooooo, ele comeu dos corpos! E ainda por cima, corpos putrefatos! Ecaaaaa! rsrs

Isso está parecendo uma daquelas cenas de filmes de terror, onde o protagonista, de repente, acorda e percebe que tudo não passou de um pesadelo monstruoso!! Ou não! rsrs

Bom, agora fui picado pela curiosidade. Urba, esta crônica faz parte do texto do livro?

Abração ou Quebra-Costelas (QC pros íntimos)!!

PS: Parabéns e obrigado pelo envio do texto. A Casa do Escritor começou muito bem 2009! E estou no aguardo da publicação do livro! \o/\o/

Qeu medo, não sou lá amiga de crônicas de terror.
Sua inteligência meu caro amigo é invejável, que criatividade, isso realmente parece cena de um belo filme de terror. Quando publicar o livro por favor gostaria de obter um, minha filha adora obras de terror.
Parabéns meu lindo!
Beijos!

Beijos meu lindo Juca você abril 2009 com chave de ouro, não poderia ser melhor!

Abriu e não abril, falha nossa, desculpa!!!

Juca

Valeuuu, Neto!

Já passei por lá! Obrigado!

Abraço!

Juca

Concordo contigo, Rô! Comecei bem mesmo. rsrs Ter um texto do Urba aqui é gratificante!

Beijos!

Dulce Miller

Eu fui privilegiada por ter lido o livro na íntegra e o Urbano escreve bem demais! Assim que "O Monstro de Alcântara" for publicado, o sucesso na literatura será inevitável!

Juca:
"O meu amor já é um sucesso com a música e com as palavras, só falta o resto do mundo descobrir isso! Aguarde e verás..."

Bano, te amo!

Carol

Inicio de ano com uma postagem espetacular meu querido Juca!!!!
Tive a honra de ter em minhas mãos o livro do brilhante Urbano, infelizmente não pude terminar de lê-lo ainda, mas o pouco que li fiquei impressionada com a erudição do Urbano, já sou sua fã, só esta faltando à carteirinha, vou providenciar.
Aproveito para pedir ao celebre Urbano minhas mais sinceras desculpas por não ter terminado ainda a leitura, é falta de tempo, mas eu estou muito impressionada com a fluência que o texto tem e a inteligência que demonstras em cada pagina, sem contar com a linda e doce luta pela vida que enreda a história.
Beijo no coração dos meus queridos amigos, parabéns a ambos !

Anônimo

hi friend!! U have a very cool site here....would U mind if we exchange links? ^_^

Unknown

SaUDAÇÕES jUCA...
uma honra encontrar seu blog e deparar essa cronica...gosto de mais de historia e com ponto de verdade...nao sabia q sera livro...

muito bom mesmo...

vo continuar lendo seu blog...

abraços

Philip Rangel
Equipe Entrando Numa Fria

Anônimo

Happy Wednesday! Bloghoppin' here... Hey, I have an interesting tutorial for you that I have written myself. It is about adding Adsense on your Single Post in XML template. I hope you'll like it! God Bless you!

Anônimo

Que texto arrepiante !! Obrigada pela dica, Juca!!

Camila

Mais uma crônica do nosso escritor!

Adoro ler o Urbano porque ele escreve e a gente consegue ver suas palavras acontecendo. Eu fiz um filme do que li e isso é muito gostoso!

Urbano, parabéns pelo texto. Vou ficar aqui esperando a publicação do livro, tá? Porque com certeza vai ser um sucesso!

Juquinha, o ano na Casa do Poeta começou muito bem sim! Parabéns!

Beijos pros dois!

Glayce Santos

Que bacaaana, parabéns pro Urbano!!!!
Eu quero comprar, viu... Preciso sabaer dos detalhes depois!!!!!!!! \o/

Beijããããão, JUCA!

Raio de luz...

Adoro os textos do Urbano, mas confesso que esse me fez arrepiar. Ver coisas estranhas na vida real é normal pra mim, mas esse negócio de histórias de terror, ui!

=/
Eu já acordei três andares de um prédio com medo de "O Exorcista". Shhh! Mas é segredo.
^^
Beijo!
SAudade de tu, JUca!

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