segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Blogagem Coletiva: Interlúdio com Florbela

Senhoras e Senhores, tenho o prazer de inseri-los num mundo mágico, o mundo de uma das maiores poetisas portuguesas de todos os tempos: Florbela Espanca!

Florbela Espanca - Crédito: Mulheres Portuguesas do Século 20

Clique no player acima e acompanhe o texto abaixo!

 

                        Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

 

A sua Poesia é de uma imensa intensidade lírica e profundo erotismo. Cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina sem que alguns críticos não deixem de lhe encontrar, por isso mesmo, um "dom-juanismo no feminino".

O sofrimento, a solidão, o desencanto, aliados a imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito, constituem a temática veiculada pela veemência passional da sua linguagem. Transbordando a convulsão interior da poetisa pela natureza, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas.

Florbela Espanca não se liga claramente a qualquer movimento literário. Próxima do neo-romantismo de fim-de-século, pelo carácter confessional e sentimentalista da sua obra, segue a poética de António Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, pode considerar-se influência de Antero de Quental e de Camões.

Só depois da sua morte é que a poeta viria a ser conhecida do grande público, tendo contribuído para isso, inicialmente, a publicação de Charneca em Flor (1930) pelo professor italiano Guido Batelli.

Fonte: Mulheres Portuguesas do Século 20

 

Quer se aprofundar um pouco mais? Leia o artigo abaixo:

 

Ser Poeta: imagens da metapoesia em Florbela Espanca

Autoria: André Luiz Alves Caldas Amóra (PUC-Rio)

Um dos aspectos relacionados à metapoesia em Florbela diz respeito à imagem do eu-lírico enquanto poeta. O poema Ser poeta, do livro Charneca em flor, apresenta a preocupação quanto ao sentido da existência, e o próprio título parece indiciar e sintetizar o que a figura do poeta representa:

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Logo na primeira estrofe, percebemos a superioridade decorrente do fato de se ser poeta, pois quando o sujeito lírico afirma que morde como quem beija, demonstra a capacidade de transformação do bruto e doloroso em algo singelo e suave – como uma espécie de poder alquímico, que transforma o metal vil em ouro. Quando são aproximados os sintagmas mendigo e rei, notamos a presença dos arquétipos do desvalido e do todo-poderoso, que aqui aparecem reformulados, uma vez que aquele – que vive em miséria – tem o poder de dar o que poderia ser dado apenas por um rei. O seu reino, neste caso, possui a riqueza da criação e da imaginação, que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente – como nos conhecidos versos pessoanos.

Na segunda estrofe, notamos a plenitude do poeta quando o eu-lírico diz ter o esplendor de mil desejos, porém sem nem saber ao certo o que é desejado. Este esplendor confere a ele uma transcendência, isto é, a superação de sua condição humana, vista nas imagens do astro que flameja ou do condor. Além de o poeta irradiar luz própria, identifica-se com a figura do condor, que tem como principais características o seu voar mais alto e a sua solidão:

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

No primeiro terceto deste soneto, é clara a ânsia de se alcançar a plenitude, quando o poeta diz ter fome e sede de Infinito. Podemos dizer que o ser poeta é viver em constante batalha, e que o elmo – espécie de capacete utilizado por guerreiros em tempos anteriores – simboliza a arma mais preciosa: a imaginação. Logo em seguida, verificamos que tal batalha – a da escrita – tem o que é de mais valioso e suave, quando surgem as imagens do oiro e do cetim:

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

A questão da plenitude é novamente enfocada no último verso da terceira estrofe. Neste caso, há a presença de uma espécie de grito poético, em que o sujeito lírico afirma que ser poeta é condensar o mundo num só grito, alcançando, assim, a plenitude da expressão. No último terceto, a assertiva é seres alma, e sangue, e vida em mim representa a fusão do espírito e do corpo, evidenciando-se a plenitude do sentir e do viver. Vale ressaltar que a alma pode ter também a conotação do princípio da vida e o sangue o veículo, sugerindo a totalidade existencial do ser poeta. No verso E dizê-lo cantando a toda a gente!, o eu-lírico nos faz crer que não basta trazer a síntese do que é abstrato e concreto, e sim transformá-la em poesia, pois, além de sentir em plenitude e com totalidade, dá conta disso na expressão poética:

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Fonte: Ser Poeta: imagens da metapoesia em Florbela Espanca

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Florbela Espanca: Sonetos Completos

Clique aqui e baixe a obra "Florbela Espanca: Sonetos Completos" (reprodução fotográfica do livro que reúne quase toda a obra de Florbela) em formato PDF. Material está disponível para download no site 4Shared, não sendo sua hospedagem de responsabilidade do autor deste blog!

Nota: Luís Represas (cantor português e ex-integrante do grupo Trovante) canta o poema Ser Poeta, musicado por João Gil e intitulado Perdidamente.

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Crédito: Interlúdio

Este post faz parte da blogagem coletiva "Interlúdio com Florbela", de iniciativa da Flor, autora do blog Interlúdio.

rose

Um agradecimento especial à querida amiga Max, do blog Max, por ter me apresentado tão belo poema!

rose

17 Recado(s). Após o sinal, deixe o seu!:

Dulce Miller

Juca, teu post ficou maravilhoso, nem quis esperar até amanhã pra comentar! \o/

Eu adoro os poemas de Florbela e AMEI participar dessa blogagem!!

Beijos, querido!!!

Anônimo

Juca, seu post ficou maravilhoso [2]!!!!

A Flor ela tem uma maneira envolvente, pessoal e intrigante de nos conquistar!!!

A-mei!!

Beijos, Juca!!!

Dalva Nascimento

Bom dia, meus queridos!

Chegamos ao grande dia da Blogagem em homenagem a Florbela Espanca.

Tanto ansiei por este dia, e eis que, por caprichos do acaso, desde sábado estou com problemas sérios de conexão, e hoje estou aqui graças ao PC de uma Lan House... Cheia de vontade de ler os seus posts, que tão carinhosamente estão sendo publicados, mas por hora impossibilitada... A presença do técnico está marcada para hoje às 16.00 h. Espero que tudo volte ao normal para que possa, além de me deliciar com as suas postagens, publicá-las no Interlúdio com Florbela, como uma pequena forma de agradecer pelo carinho de vocês... Conto com a compreensão de todos... Beijos!

Flor ♥

Anônimo

Hoje o dia se faz um livro de Florbela Espanca e eu vou virando as páginas e saboreando seus versos... Belíssima segunda-feira... Abraços meus

Anônimo

Super!! Florbela não só amor perdidamente, acho que viveu perdidamente!! Boa blogagem!! Beijus

Serena Flor

Florbela é divina e estou hiper feliz de também ter participado desta linda blogagem.
Hoje a blogosfera exala um doce perfume desta mulher com nome de Flor...bela!
Beijos e adorei seu post...cada post lido, uma bela surpresa!

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/

Juca, a história de vida dessa mulher nao é para qualquer um nao de nós, meros mortais.

Sensacional os textos dela.

Pena que teve uma vida muito triste e melancólica.

Abracos

Urbano Leonel Sant' Anna

Puxa, Juca!!!

Que baaaita coincidência!!!

Acreditas que eu escolhi este poema a dedo? Foi o que eu mais gostei (de longe)! Só posso, então, é te parabenizar pelo bom gosto! (rsrs)

Grande abraço!

Sensata Paranóia

Estou muito feliz de poder participar dessa iniciativa. Pouco conhecia de Florbela mas o pouco que conhecia me apaixonei, agora que muito conheço minha paixão maior ficou!

Beijos meu lindo, seu post está pleno de informações e estudos marvilhosos!
Parabéns!
Rô!

Anônimo

Juquinha

Aprendi muito com você e o post da Duzinha.

Belo post!!! Um abração!!!

Max Coutinho

Oi Juca,

Fantástico artigo :D! E a escolha de poema foi fantástica!
Sabes, estive quase para participar nesta blogagem colectiva, mas depois fiquei sem tempo algum...o que foi uma pena (pois tenho a colectânea dos Sonetos dela, e poderia ter escolhido um deles)!

Mas de qualquer maneira deixa-me dizer-te que fizeste um trabalho magnífico! Que ode!

Tens razão, o trabalho de Florbela Espanca só foi postumamente reconhecido (como aconteceu com quase todos os grandes, como Camões, por exemplo); e há um ano ou dois, fizeram-lhe uma homenagem na terra dela, e só uma actriz (que também é uma grande escritora e poetisa Portuguese, Rosa Lobato Faria), o Presidente da Câmara local e uma outra personalidade (senão me engano, o ministro da cultura) é que estiveram presentes...uma vergonha!

Ah sim, Luís Represas cantou este poema...ficou lindo, não ficou? Esta é a única música dele que gosto (vou ver se encontro o video, para postar nas semanas da "Lusofonia" lá no meu blog)! Não sabia que João Gil é que a tinha musicado (ele também tem um grupo muito interessante)!

Óoo...de nada, meu lindo *abraço*! Obrigada por este agradecimento tão especial :D!

Parabéns, o post ficou mesmo magnífico :D!

Beijos e boa semana!

Janaina Amado

Oi, Juca, gostei de conhecer seu blog. O post da nossa roda de poesia está ótimo - tem até livro da Florbela pra gente baixar! Obrigada.

Vanessa Anacleto

Oi, Juca, tb estou na coletiva e passei para conferir sua participação. Parabéns, Ser Poeta é lindo.

abraço

Anônimo

Você não exagera quando diz nos apresentar ao mundo mágico!
Estou pasma com tanta beleza, com tanta originalidade, com tanta força e delicadeza juntas. Estou literalmente babando!
Obj!
Amei!!

ETERNA APAIXONADA

*****

Olá Juca!
Retorno aqui (estive na Blogagem à Cecília Meireles) para deixar-lhe um abraço.
Linda homenagem à amada poetisa! Muito rica em detalhes, feita com carinho!
Também participei com meus blogs. Ontem devido congestionamento não consegui visitar os blogs participantes da Blogagem Coletiva, que foi um sucesso!
Tenha uma ótima semana!

Sintonias do Coração

ETERNOS SONHARES

Coisas da Helô ©


*****

Sonia Regly

Adorei sua postagem, está completa!!! Não falta nada!!! MUito bacana!!!PARABÉNS!!!! Volte sempre ao Compartilhando as Letras, me senti muito feliz e honrada.Obrigada

Dalva Nascimento

Oi, meu querido... hoje finalmente estou conseguindo publicar meus posts para o Interlúdio com Florbela, nos meus 3 blogs... Ontem foi impossível, a minha conexão não entrou de jeito nenhum! :(! Desde sábado estava lenta, mas ontem parou geral. O técnico veio hoje às 18.00 h, e finalmente agora vou passear pelos blogs para ver as belezas que voces tão carinhosamente postaram. O seu tá maravilhoso... Obrigada por teu carinho... Beijos!

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