Este crime é mais um daqueles que nos chocam e nos deixam perplexos, mas parece que estamos cada vez mais embotados pela seqüência desses acontecimentos! Fiquei sabendo da notícia por cima, mas hoje, ao ler a matéria da Veja, além de imaginar a cena dramática e bárbara, fiquei me sentindo um "nada", um "zero à esquerda", mais especificamente, desculpem-me pelo desabafo: uma merda! Dizem que se juntarmos as forças poderíamos mudar este estado de coisas que insiste em pairar durante tanto tempo, mas o que tenho visto é um aumento acentuado da violência.
Enquanto isso, os nossos governantes - que votamos para que nos representem e coloquem um pouco de ordem neste caos - estão por aí preocupados com aumentos astronômicos dos seus salários, aumento de verbas que custeiem seus gastos de gabinete, seguranças e carros blindados, entre outras coisas. Disputam acirradamente pela presidência dessa ou daquela Casa, mas as votações de projetos de lei, bem como mudanças drásticas de leis que são ineficientes e ineptas, que só beneficiam aos bandidos e corruptos, são levadas em "banho-maria", pois precisam deixar algo para continuar a eterna ladainha dos políticos quando chegam ao poder. E assim vão levando suas belas vidas, gastando e esbanjando o que é arrecadado pelo Erário de forma tão virulenta e gulosa!
Além dessa espécie de seres humanos, há outras espécies que se dizem intelectuais e defensores dos necessitados e injustiçados, que quase em sua totalidade são aqueles que cometeram o crime, mas acabam sendo tratados como coitadinhos! Na referida matéria ainda surgem outros em defesa dessa espécie desamparada (os marginais): alguns jornalistas ficaram indignados porque os policiais fizeram questão de mostrar a cara dos criminosos para que saíssem bem "na foto" e, assim, possamos lembrar deles mais tarde. Coitados deles, não podem ser tratados com tamanha crueldade, não podem dar a cara à mostra, pois o pobre garoto que estava no carro com sua família é o culpado por tudo!!
Bom, leiam a matéria completa e sintam o que estou sentindo agora: nojo, ânsia, repulsa, frustração, entre outros sentimentos menos nobres! Fico me perguntando se sou humano ou um extra-terrestre, perdido aqui neste mundo belo e feio ao mesmo tempo!
Juca
PS: Espero que a Veja não me processe por deixar a matéria na íntegra, mas neste caso é importante que mais pessoas fiquem por dentro destes atos "abomináveis", indignos do homem! De qualquer forma, sempre coloco a autoria e um link direcionando ao site original, para aqueles que queiram ler diretamente da fonte. De resto, vou entrar no site da Câmara dos Deputados e enviar emails para tantos quantos for possível deixando minha total frustração e indignação, cobrando deles uma atitude mais enérgica e urgente, com propostas eficientes e duradouras. Ah, quanto ao senhor Lula, claro, ele é contra a
diminuição da maioridade penal!!
Brasil
Sem limites para a barbárie
Marcelo Bortoloti
Osvaldo Prado/Ag. O Dia/AE
Policiais observam (acima, à dir.) o corpo do menino João Hélio (no detalhe, à esq.). Os autores do crime, um menor e um rapaz de 18 anos (abaixo), foram presos no dia seguinte.
Chega de explicações. Todo fenômeno de degradação social tem explicação. A queda de Roma, a ascensão de Adolf Hitler, a proliferação do mal bolchevique pelo mundo, a destruição das cidades brasileiras pelos criminosos e seus asseclas, simpatizantes – ou simplesmente cegos – na intelectualidade, na polícia e na política. O martírio público do menino João Hélio está destravando a língua de dezenas de explicadores. São os mesmos que passaram a mão na cabeça dos "meus guris" que desciam ao asfalto para subtrair um pouco do muito que os ricos tinham e, assim, sustentar a mãe no morro. Chega de romancear o criminoso, de culpar abstrações como a "violência", o "neoliberalismo", o "descaso da classe média"...
O que se passou depois foi uma cena difícil de imaginar, mesmo nos piores filmes de terror – aliás, nenhum roteirista ousou escrever uma cena daquela. Um crime de tamanha crueldade tem de ser encarado como a gota d'água para mudar o combate à violência no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. João Hélio foi arrastado por 7 quilômetros em ruas movimentadas de quatro bairros da região. Um motoqueiro que vinha atrás, que pensou tratar-se de um acidente, tentou alcançar o veículo para avisar que havia uma criança próxima à roda. "Na primeira curva, a cabeça bateu na proteção da calçada, e o sangue espirrou na minha roupa. Comecei a gritar e buzinar, mas vi que a criança já estava morta. Quando consegui chegar até o carro, um dos ocupantes pôs a arma na minha cara e me mandou ir embora", diz a testemunha.
Para evitar a todo custo pagar o preço de enfrentar a bandidagem e se manter na civilização, o Brasil está aceitando pagar o preço da volta à barbárie. O mais desalentador é constatar que o pequeno João Hélio chegou ao suplício em vão. Nada vai acontecer com os criminosos que o desmembraram em público e logo eles e outros estarão nas ruas predando os meninos-João. Os explicadores continuarão suas ladainhas, seus seminários, suas viagens para conhecer cidades que venceram o crime, suas reformas para dar resultados daqui a um século, suas visões idílicas de que favelas são soluções... No que diz respeito ao crime, o Brasil não está na UTI... está na sala de emergência. A decisão de quem vive e quem morre nessa sala, infelizmente, está nas mãos dos bandidos.
Pessoas que viram a cena também entraram em desespero enquanto os bandidos faziam ziguezague com o carro, tentando se livrar do corpo. Em algumas das treze ruas pelas quais João foi arrastado, ainda era possível ver rastros de sangue e massa encefálica pelo chão no dia seguinte. Os bandidos rodaram por dez minutos e depois abandonaram o veículo numa rua deserta. O garoto, ainda atado ao cinto, não tinha mais a cabeça, os joelhos nem os dedos das mãos. "Estou acostumado a ver cenas violentas. Mas foi uma coisa bárbara, não tive coragem de tirar o plástico para ver o garoto", diz o delegado Hércules do Nascimento, responsável pelo caso. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e o comandante-geral da PM, coronel Ubiratan Guedes, não contiveram as lágrimas no enterro do menino. Um morador que reconheceu os bandidos conta que um deles saiu do carro, viu o corpo, depois vasculhou os objetos de valor dentro do veículo e desapareceu com o comparsa por um beco escuro. Eles não queriam o carro, apenas os pertences da família, o que confirma o assustador nível de banalização da violência nos grandes centros urbanos do Brasil.
Do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, em VEJA on-line (http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/): o menino João é o guri dos sem-Chico Buarque. O "menor", bem maior do que o menino João, cujo corpo ele ajudou a espalhar pelas avenidas do Rio, vai ficar três anos internado. E depois será solto entre os meninos-João, por quem não se rezam missas de apelo social. Resta só a dor da família: privada, sem importância, sem-ONG, "sem ar, sem luz, sem razão".
João Hélio faria 7 anos em março, cursava o primeiro ano primário num colégio particular, torcia pelo Botafogo e estava feliz porque iria ganhar um quarto novo, pintado de verde. Alegre e muito agitado, fazia aulas de natação e futebol. Todos os dias Rosa o levava de carro à escola e o buscava. Em homenagem à mãe, João fez um desenho que ficou afixado no mural da sala e dizia: "Eu gosto dela". O apego à irmã, de 13 anos, também era grande. No dia do enterro, Aline desesperou-se ao ver o pequeno caixão. "Eu quero meu bebê de volta. Quero meu irmão de volta, quero ouvir a vozinha dele de novo", gritava.
No dia seguinte ao crime, a polícia apresentou os responsáveis por essa tragédia que destruiu mais uma família da classe média carioca. Diego e E., menor de idade, sem antecedentes criminais. Segundo testemunhas, já era o quinto carro que a dupla abandonava no mesmo local. Com sangue-frio, os dois confessaram o assassinato e contaram detalhes do crime, que pode ter tido a participação de mais dois bandidos. Os pais de E., que têm outros quatro filhos, compareceram à delegacia. O pai não acreditava que seu filho pudesse ser um dos bandidos. Às 10 horas da noite, minutos após o roubo, os dois estavam na sua casa, onde jantaram sem demonstrar nenhum tipo de alteração. "Ele não precisava disso. Estava estudando e ganhava dinheiro lavando carros", afirma. "Eu sabia que meu filho andava com más companhias, mas nunca imaginei que pudesse fazer uma coisa dessas.
"Simbolicamente, a culpa é de quem morre. Alguns jornalistas ficaram um tanto revoltados com a polícia, que obrigou os bandidos a mostrar o rosto. Terrível ameaça à privacidade. Era só o que faltava: trucidar o menino João e ainda ser obrigado a expor a cara... Que país é este? Já não se pode mais nem arrastar uma criança pelas ruas em um automóvel e permanecer no anonimato?"
O crime precisa ser enfrentado como tal: uma combinação de pressões psicológicas, sociais, urbanas e familiares que está gerando pavor paralisante no país. É vital escapar da paralisia.
Podem-se debater as forças da natureza enquanto se assiste à aproximação de um tsunami. Mas isso é inútil, perigoso e irracional. É preciso agir, fazer alguma coisa que estanque os efeitos destruidores da ação dos criminosos. Diz o sociólogo Cláudio Beato: "Ninguém pensa em resolver os problemas emergenciais de saúde, uma epidemia, por exemplo, investindo em educação. A segurança pública também requer medidas específicas – e urgentes".
VEJA ouviu de especialistas o que precisa e pode ser feito já:
• Limitar o horário de funcionamento de bares. Pesquisa feita em 2002 pela prefeitura de Diadema, uma das cidades mais violentas da Grande São Paulo, mostrou que 60% dos homicídios do município aconteciam a 100 metros de um bar. Ao fixar em 23 horas o horário-limite de funcionamento dos bares, a cidade conseguiu, em cinco anos, reduzir em 68% sua taxa de homicídios.
• Diminuir benefícios de presos como a redução do cumprimento da pena no regime fechado, por meio de progressão. "Hoje, até os autores de crimes hediondos são beneficiados com passagem do regime fechado para o semi-aberto após o cumprimento de somente um sexto da pena", diz o promotor de Justiça das Execuções Criminais de São Paulo Marcos Barreto.
• Suspender o benefício dos indultos (de Natal, Dia das Mães...) para criminosos reincidentes ou condenados por crimes violentos. O cientista social e professor da Universidade de Brasília Antônio Testa lembra que a freqüência com que os indultos são concedidos hoje, além de aumentar o risco a que a população está exposta, obriga o Estado a dispor de mais policiais na rua e gera desvio de funções.
• Suspender o limite para a internação de adolescentes infratores em centros de ressocialização. Hoje, eles só podem ficar internados até os 18 anos. "Só deveriam poder deixar os centros aqueles adolescentes que estivessem realmente ressocializados. E isso poderia durar três, quatro ou dez anos", afirma Testa.
• Criar uma rede multidisciplinar de assistência para jovens que começam a se envolver com a criminalidade, praticando pequenos atos de vandalismo ou participando de brigas de rua, por exemplo. "Nenhum jovem vira assassino da noite para o dia", afirma o sociólogo Cláudio Beato. "Uma rede de professores, psicólogos e assistentes sociais treinados pode atuar nas escolas e comunidades, dando suporte e orientação ao jovem ainda nessa etapa do processo", diz.
• Priorizar o policiamento comunitário. "O policial comunitário ganha a confiança dos moradores, é mais bem informado sobre a criminalidade no bairro e, portanto, consegue agir com mais eficácia", afirma o sociólogo Beato. No bairro Jardim Ângela, considerado uma das regiões mais violentas de São Paulo, a adoção da medida ajudou a reduzir o número de homicídios em 57% entre 2001 e 2005.
• Criar varas especiais que possibilitem o julgamento mais ágil de policiais acusados de corrupção e outros crimes: "Um agente suspeito que permanece trabalhando, enquanto aguarda julgamento por um longo período, contribui para aumentar a sensação de impunidade e afastar a polícia da sociedade", afirma Ignacio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Que se faça o que tem de ser feito já para conter a hemorragia social provocada pelo crime. Ou, em breve, estaremos chorando outro João Hélio.
Fotos Lu Teixeira/Agif/AE, Alexandre Sant'Anna/Strana, Fabiano
Costa/Bragança Jornal Diario/AE e Luludi/Ag. Luz/Reprodução
ESCALADA DA BARBÁRIE
Uma sucessão de crimes que impressionaram pela crueldade e abalaram o país nos últimos meses: bandidos incendiaram um ônibus no Rio, matando oito pessoas (acima); a socialite Ana Cristina Johannpeter (acima, à esq.) foi morta ao parar num cruzamento; e, em Bragança Paulista, ladrões atearam fogo a um carro com quatro pessoas dentro, entre elas o menino Vinícius, de 5 anos
Com reportagem de Ronaldo Soares
link: Sem limites para a barbárie
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